SOBRE / ABOUT

I. DESDE SÃO FRANCISCO

Sou estadounidense. Nasci em São Francisco, no estado de Califórnia, em 1956. Em junho de 1986, conheci o Brasil pela primeira vez quando comecei a jornada que me tornaria um brasilianista. Usufruía de uma Bolsa da Fundação Tinker para localizar fontes para definir minha proposta de Projeto de Doutorado. Optei por estudar o movimento sindical dos trabalhadores rurais no estado de São Paulo, um tópico totalmente ignorado pela História. Realizei a pesquisa da tese no Brasil entre 1987 e 1989. Em 1990, defendi minha tese e fui contratado como professor assistente, da linha permanente (tenure track), pela Grand Valley State University (GVSU) no estado de Michigan. Nos quatorze anos seguintes, voltei para o Brasil diversas vezes para cultivar relações profissionais, desenvolver pesquisas e divulgar minha produção.

Foi a partir de 2003 que passei a contemplar uma nova fase da minha carreira, totalmente dedicada ao estudo e à atuação no Brasil. Consegui afastamentos da GVSU de julho de 2003 a julho de 2005, gozei de duas Bolsas da CAPES que me permitiram atuar como professor visitante estrangeiro de Pós-Graduação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), na Universidade Estadual Paulista – Campus de Presidente Prudente (UNESP-PP) e na Universidade de São Paulo (USP). Em 2006, solicitei outro afastamento da GVSU para assumir uma vaga de professor colaborador na UNESP; em 2009, passei em primeiro lugar em dois concursos para atuar como professor assistente da UF-Pel e da UNIFESP. Negociei minha aposentadoria junto à GVSU, quando contava com vinte anos de serviço nessa instituição, a fim de ingressar na UNIFESP, onde continuo a trabalhar até hoje, agora como professor associado.

O interesse por temas que situassem as questões sociais latino-americanas veio de vários fatores. Realizei, em minha juventude, viagens de família ao México e mergulhei na cultura latina que perfaz uma parte grande da História e da atualidade de meu estado natal, a Califórnia. Mais tarde, nos anos 1980, trabalhando como jornalista na cidade de Baltimore, situada próxima à capital dos EUA, fiz a cobertura das manifestações contra a intervenção dos Estados Unidos nas guerras civis na América Central e a favor do desenvolvimento de relações não-governamentais entre os EUA e a região latino-americana. Logo, participei dos protestos, quando fui preso em dois deles por atos de desobiência civil. Em 2002, em torno da mesa enorme de conferência da sede nacional da confederação dos sindicatos de trabalhadores dos EUA, a AFL-CIO, participei da fundação da Rede Estratégica Brasil, organizada para defender o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, logo no início de seu primeiro mandato como Presidente[1]. Até hoje, faço parte de redes e organizações da solidariedade entre movimentos populares e grupos profissionais da América.

O interesse pelos estudos relativos ao campo adveio de minha herança paterna, como neto de um meeiro de terras no estado de Colorado e filho de um pequeno comerciante que trabalhou, quando jovem, tocando gado e apanhando frutas. Embora eu tenha nascido na cidade, meu avô paterno era caseiro de um sítio no estado de Oregon e ali eu costumava passar as férias de verão, o que significava também labutar no campo: cuidar de vacas de leite, colher capim para armazenar a ração de inverno, além de aprender a apreciar a vida no campo e a andar a cavalo. Esse interesse foi tão grande que, durante as férias escolares de verão, de meus 16 aos 21 anos de idade, trabalhei em uma fazenda de gado no estado de Wyoming. Gostei demais das experiências de vida no campo, da visão de um céu sem fim, da proximidade com os animais e a natureza em geral, do orgulho das conquistas advindas do trabalho físico, do estoicismo diante da adversidade climática e das relações sociais de mutirão na comunidade das famílias agrícolas. Meu contato com a vida no campo foi, assim, bem camponês.

Figura 1. Meu pai (centro) brincando com os cachorros no sítio que meu avô trabalhou como meeiro em Otis, Colorado, por volta de 1922.

Minha convivência com a agropecuária, nos anos 1960 e 1970, foi influenciada também por, pelo menos, três movimentos históricos do período: o movimento ambientalista, o movimento indígena (Red Power) e a mobilização dos trabalhadores rurais. Se a Califórnia sempre atraía contraculturas, a área da Baía de São Francisco foi a capital de todas as contraculturas do mundo durante minha juventude. Em 1963, Rachel Carson realizou sua única visita à Califórnia, justamente na área da Baía. Estudiosa dos efeitos negativos dos agrotóxicos na vida, ela é reconhecida como uma das mães do movimento ambientalista[2]. Minha mãe nos educou sobre o assunto a partir do livro Silent Spring (1962), a mais famosa publicação de Carson[3]. Minha mãe, que trabalhou como secretária na sede do sindicato dos estivadores do porto de São Francisco, cultivou um jardim, levou-nos para eventos patrocinados pela organização ambientalista internacional – o Sierra Clube – e nos alimentou com comida orgânica e vegetariana, já nos anos 1960. Nos anos 1970, minha mãe e meu padrasto, secretário-tesoureiro do sindicato dos estivadores, apoiavam o movimento sindical dos trabalhadores rurais da Califórnia, os Trabalhadores Rurais Unificados (UFW, na sua sigla inglesa), que organizou entre os consumidores boicotes de uvas e alface para pressionar os fazendeiros a negociarem com o sindicato em formação. Nesta época, com 57 anos de idade, minha mãe fez Ciências Políticas na Universidade Estadual de São Francisco, graduando Phi Beta Kappa em 1979, o mesmo ano da minha formação. Para gerar apoio para um movimento a favor uma emenda constitucional de igualdade entre os gêneros, minha mãe juntou com outras pessoas para estabelecer uma unidade local da Organização Nacional das Mulheres. Em 1984, ela foi credenciada como delegada da convenção nacional do Partido Democrático, realizada em São Francisco, que elegeu a primeira mulher para concorrer a vice-presidente dos Estados Unidos, um ato que cobri como repórter. Sem dúvida nenhuma, minha mãe me influenciou a me preocupar com justiça social e a participar na vida política.

Figura 2: Era normal encontrar o memorialista vestido e armado como caubói nos anos 1950 e 1960.

Em novembro de 1969, grupos de povos indígenas e Chicanos ocuparam a ilha penitenciária de Alcatraz na Baía de São Francisco. Estabeleceram sua sede no embarcadouro perto da sede do sindicado onde trabalhou também o meu padrasto, Art Rosenbrock. Eu, que cresci influenciado por meu pai e por mil filmes de Hollywood a celebrar a conquista do Oeste pelo caubói, aprendi, com a ocupação, o outro lado da conquista, o lado da resistência indígena. Nasceu no conflito da ocupação de terras o movimento Red Power, inspirado no movimento Black Power dos Afro-Americanos, com seu berço entre as Panteras Negras de Oakland, cidade irmã de São Franciso à beira leste da baía. Em 1970, saiu o livro de História contra-hegemônica, Enterrem meu coração na curva do rio[4]. Esse livro mudou minha perspectiva dramaticamente, para ver a nação dos Estados Unidos como força colonizadora, que usou a agropecuária como arma de conquista, que perseguiu, massacrou e desterritorializou povos indígenas que geralmente viviam em harmonia com a natureza. Com mais que 400 páginas, foi o maior livro que já tinha lido; lia escondido parcialmente durante as horas da família na igreja. No momento do sermão, os jovens eram enviados para os encontros de catequese da primeira comunhão, mas eu me escondia nos cantos da igreja para ler como os cristãos e suas igrejas instigaram e justificaram barbaridades contra os povos indígenas. Nunca mais me identifiquei como cristão, apesar de aprender a apreciar movimentos como o da Teologia da Libertação.

Busquei informações e modos de ajudar o movimento e a ocupação de Alcatraz. Tornei-me agitador da causa em meu colégio de Ensino Médio. O livro e acompanhamento do movimento semearam em mim o pensamento crítico sobre a História e a realidade dos Estados Unidos, em um período extremamente turbulento, com a mobilização popular contra a participação dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, a radicalização dos movimentos ambientalista, feminista, negro pelos direitos civis, e as reportagens ocasionais sobre a existência de uma luta armada subterrânea.

No colégio, estudei Espanhol, que estava cada vez mais presente nas ruas. Durante os anos da faculdade, fui para o México algumas vezes. Em uma delas, peguei caronas da fazenda em Wyoming até a fronteira no sul do Texas e de lá fui para a Cidade de México de trem, terceira classe. Nessa viagem, encontrei níveis de pobreza que nunca tinha visto. Lembro-me de uma conversa com um jovem de Guatemala. Ele me contou das dificuldades dos povos Maias, sua perseguição e matanças que tinha testemunhado e, felizmente, escapado delas. Achei incrível, mas de certa forma, o que ele relatou tinha ressonância com o tratamento dos povos indígenas nos Estados Unidos. Ajudei-o como pude. Anos depois, quando criamos um Programa de Estudos de América Latina na GVSU, a autobiografia de Rigoberta Menchú Tum, a ativista guatemalteca do grupo Quiché-Maia que ganhou o Nobel da Paz em 1992, fez parte da bibliografia básica do curso. O livro documenta histórias idênticas às que ouvi do jovem nos anos 1970[5].

II. CARREIRA UNIVERSITÁRIA

2.1 Graduação

Uma vez matriculado na Universidade da Califórnia – Campus de Santa Cruz (UCSC), iniciei estudos com intenção de me formar como veterinário. Mas a organização dos cursos nos EUA obriga todos os estudantes a assistirem a aulas em quase todas as áreas de conhecimento. Ocorreu-me a oportunidade de reconsiderar meu plano de voltar para o mundo das fazendas como médico de animais de grande porte. Encontrei-me mais nas disciplinas das Ciências Humanas e Sociais. Fiz algumas disciplinas de História, inclusive “A História da Escrita Cientifica Contemporânea”, “Os Estados Unidos no Século XIX”, “As Ambiguidades da História da América” e “História dos Povos Indígenas da Califórnia.” Mas, também, disciplinas de literatura, escrita, teatro, poesia, Sociologia, Física, Política, da Lei Ambiental e Jornalismo. Logo, procurei trabalhar no periódico semanal estudantil do campus, City on a Hill Press.

A UCSC foi um campus experimental e assim fomos encorajados a criar nossas próprias disciplinas, dentro de certos limites. Durante um trimestre de 1976, realizei minhas horas-aula de Estudos Ambientais em um estágio de tempo integral na sede nacional do Sierra Club, em São Francisco. Trabalhei como estagiário escrevendo matérias para o boletim nacional da organização. Nessa época, os repórteres de diários foram vistos como heróis, por seus trabalhos que revelaram os crimes do presidente Nixon no escândalo de Watergate, a corrupção de grandes empresas e as violações de direitos humanos pelo Governo Federal em países estrangeiros como Brasil, Chile, Guatemala e Vietnã.

Durante o restante do ano acadêmico de 1976-1977, me desloquei para a cidade de Denver, no estado do Colorado, para trabalhar em uma cooperativa de notícias sem fins lucrativos, o College Press Service (CPS). Cada ano, cinco jornalistas estudantis administravam a cooperativa, que ganhava dinheiro por meio de assinaturas para um Boletim semanal que o grupo escreveu e reproduziu em forma mimeografada, distribuindo-o pelo correio. Foi a criação do movimento estudantil dos anos 1960. Lemos os jornais de faculdades do país inteiro para levantar histórias de novidades e de padrões encontradas. Durante uma semana de férias, fui conhecer as reservas indígenas dos povos Navajo e Hopi, centenas de quilômetros ao sul de Denver, para pesquisar uma disputa territorial entre os povos. O artigo também foi distribuído pelo CPS e publicado em dezenas de jornais. Próximo ao fim do ano, era nossa responsabilidade selecionar um novo grupo de cinco jornalistas para nos substituir. Infelizmente, a coletiva não durou muito mais tempo[6].

Não conhecia a modalidade de “iniciação cientifica” até dar aula no Brasil. Mas os cursos de bacharelado da UCSC cobraram dos estudantes um Trabalho de Conclusão de Curso, só que foi chamada de “Tese Sênior”. Minha tese foi entregue em junho de 1979.  Tratava de uma análise, em forma de romance, da invasão da indústria de energia na cultura pecuária do estado de Wyoming.[7] A invasão fez parte de uma polêmica central nos anos 1970: o que fazer diante da crise de petróleo no mundo? A crise trouxe para Wyoming uma colisão de culturas, das chamadas visões de “modernidade” e de “tradição”. A elevação brutal no preço de energia, promovida pelos países produtores de petróleo, trouxe para o estado um brusco desenvolvimento de minas de carvão e de urânio, atraindo intenso fluxo migratório de pessoas para trabalhar de uma forma completamente oposta ao da vida pastoral das fazendas de gado. (Ainda não predominava o sistema de confinamento).  Abriram a superfície da terra, destruíram as pastagens, processaram toneladas de terra para tirar os minerais de valor no mercado de energia. Na tese, examinei um território em conflito e resgatei as contradições entre esses interesses, conforme se manifestavam na paisagem da vida dos vaqueiros e dos mineiros envolvidos nessa contenda, levantando-se então em forma literária, questões que tenho investigado até hoje.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, não só contei com inúmeras fontes, como acompanhei o conflito, no primeiro instante, como vaqueiro e depois como carpinteiro-de-aço numa mina aberta de carvão. Fiz contato com o sindicato dos trabalhadores em minas (United Mine Workers of America-UMWA) e consegui autorização para acompanhar, por uma semana, o organizador do sindicato no Wyoming.

Logo após a Graduação, fui convidado por desconhecidos a trabalhar como editor assistente de um jornal semanal da imprensa alternativa dos EUA, o City Paper, sediado em Baltimore[8]. Em 1981, fundamos outro semanal em Washington, D.C., o que me proporcionou centrar minha reportagem nos movimentos sociais, mobilizando-me para me opor às políticas neoliberais e anticomunistas do presidente Ronald Reagan, entre as quais se ressaltavam os movimentos de solidariedade com os refugiados de guerras da América Central, os Sandinistas de Nicarágua e os militantes da Frente Farabundo Marti de El Salvador. Os movimentos se manifestaram contra a política intervencionista de Reagan que consistia, entre outras coisas, em mobilizar as forças armadas para destruir as transformações promovidas pelos Sandinistas e prevenir outras mudanças democráticas nos países vizinhos, como El Salvador, Honduras e Guatemala. Durante a cobertura jornalística que fiz das manifestações pró-Sandinistas, destaco minha participação efetiva nessas contendas, tendo, inclusive, participado da ocupação do escritório de um deputado Federal favorável a essa política do governo norte-americano.

2.2 Mestrado

Em 1983, resolvi afastar-me da função de editor do City Paper para trabalhar como free-lancer e vislumbrar a pós-graduação. Nesses anos, eu me envolvi na criação de um sindicato nacional para free-lancers, servindo como delegado de Baltimore dos comitês de organização e me dedicando à escrita da constituição nacional da União Nacional dos Escritores (NWU, na sigla inglesa)[9]. Organizei minha agenda de estudos para me aperfeiçoar como jornalista especialista em Relações Inter-Americanas e relações trabalhistas. Pensava no mestrado como um grau acadêmico que me permitiria trabalhar como professor em faculdades comunitárias. Ainda morando em Baltimore, fiz minha matrícula na Universidade de Maryland no College Park, na periferia da capital federal. Iniciei meus estudos com a história social dos Estados Unidos, passando por cursos de história comparativa que me permitiram enfatizar as experiências de trabalhadores dos países do Sul Global (o que chamávamos então de Terceiro Mundo). Foi nesse contexto que comecei a estudar a divisão internacional do trabalho, os processos de isolamento dos camponeses e sua proletarização, bem como as táticas de segmentação do mercado de trabalho que buscavam fragmentar a classe trabalhadora.

Conheci o Professor Dr. Ira Berlin, um dos mais conhecidos historiadores das experiências dos Afro-Americanos nos EUA. Ele tinha identificado e recuperado uma fonte de entrevistas com velhos libertos gravados nos anos 1930. O leitor podia então escutar as vozes das próprias pessoas escravizadas. Ele me convidou para ser monitor bolsista de sua disciplina sobre a história dos EUA antes da Guerra de Secessão. Não seria mais necessário vender meus serviços como carpinteiro, marceneiro e pintor de casas para pagar as contas. Assim, trabalhei intensamente com ele durante dois anos. Em seu seminário “Leituras na História Social da América”, trabalhamos com uma literatura internacional e interdisciplinar produzida por antropólogos, como Claude Meillassoux, Sidney Mintz e Eric Wolf, sociólogos como Eric Williams, Jeffery M. Paige, Orlando Patterson, Teodor Shanin e Louise Tilly, e historiadores como Florencia E. Mallon, Frederick Cooper, David Brion Davis, Alan Dawley, Eric Foner, Elizabeth Fox Genovese, Eugene Genovese, Herbert Gutman, Eric Hobsbawm e Karl Polanyi. Essas experiências com o Dr. Berlin foram fundamentais em minha identificação com o ofício de historiador. Décadas depois, em 2005, foi uma honra grande descobrir que ele, como eu, tínhamos sidos selecionados como palestrantes em eventos acadêmicos na Northern Arizona University. Infelizmente, o professor morreu de câncer em 2018[10].

Ainda durante o Mestrado, Berlin – um fundador da Mid-Atlantic Radical History Association, que publica a importante revista Radical History Review, apresentou seus monitores ao sociólogo Teodor Shanin, editor fundador da prestigiada revista Journal of Peasant Studies. Conversamos com ele em uma pequena sala, escutando sua história de luta armada para criar o estado de Israel. Shanin foi um herói nacional da luta, mas negou seus privilégios e abandonou Israel, uma vez que percebeu que o novo governo judeu não ia reconhecer a cidadania dos camaradas árabes com quem ele tinha lutado para liberar o território. Em 2007, tive a honra de servir como tradutor e guia de Shanin, quando veio ao Brasil para fazer a abertura do Simpósio Internacional de Geografia Agrária (SINGA) em Londrina[11]. Acompanhei-o por uma semana, aproveitando cada oportunidade para construir uma relação em torno de nosso interesse comum pelo campesinato. Continuamos em contato e planejamos nos reencontrar em Moscou em 2017, mas minha viagem foi interrompida por problemas de saúde e Shanin morreu logo depois[12].

Figura 3 Com Bernardo Mançano Fernandes, Teodor Shanin e Yamila Goldfarb no SINGA em Londrina/PR em 2007.

Outro professor fundamental para mim, durante o mestrado, foi o Dr. Richard Price, de nacionalidade inglesa. Price estudou com Edward Palmer Thompson na Inglaterra. Sua disciplina, “Leituras da História da Grã-Bretanha”, iniciou-se com três semanas de debate do livro A formação da classe operaria inglesa. Além de analisar o livro de capa a capa, conhecemos pessoalmente o grande educador inglês, quando visitou o campus em sua campanha de desarmamento nuclear. Eu me identifiquei muito com Thompson. Vi em sua historicidade da classe operária o papel histórico da minha classe. Admirei Thompson como historiador, jornalista e militante e, para meu trabalho final da disciplina, examinei como Thompson conseguiu integrar sua pesquisa histórica com pedagogia e ativismo político. Fora da disciplina, Price me ajudou com minha dissertação, ensinando-me uma questão histórica fundamental: como foram transformadas ou não as relações sociais?

Na Universidade de Maryland, meu orientador foi Dr. Winthrop Wright. Ele era um especialista em história da Venezuela, mas me levou a conhecer as histórias de diversas repúblicas da América. Fiz com ele “A História do Brasil”, “México e América Central” e “Leituras na História da América Latina.” Dr. Wright foi muito gentil. Apresentou-me a uma escola de português administrada pela embaixada brasileira. E, na biblioteca da universidade, comecei a ler os discursos de Getúlio Vargas. Fiquei fascinado com a figura do “homem do campo” que reapareceu nos discursos. Às vezes ele era um camponês, um trabalhador rural, um operário rural, um lavrador, mas o que ficou claro foi sua presença no pensamento político de Vargas. E o que me chamou atenção na literatura histórica foi a total ausência desta figura na historiografia depois de 1930. Escrevi um trabalho sobre isso para Dr. Wright. Sem perceber, foi a faísca para o meu projeto de doutorado.

Com os professores Louis Harlan e Steven Hahn, historiadores de destaque em estudos agrários, aprofundei minha leitura sobre a história do campo em mais outras sociedades, particularmente sobre a questão agrária, o que me levou a analisá-la no contexto dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Espanha, Peru, México, Caribe, Nigéria, África do Sul, Angola e Zimbábue. Foi por ocasião desses estudos que entrei em contacto com um livro sobre o Nordeste e o golpe militar, A revolução que nunca houve, de Joseph A. Page, a partir do qual adentrei os estudos sobre as Ligas Camponesas e também sobre a intervenção clandestina dos EUA no golpe militar de 1964[13].

A proximidade da universidade com a sede da AFL-CIO e do arquivo nacional dos EUA contribuiu para facilitar a pesquisa que realizei sobre a relação dos EUA com América Latina e o movimento sindical. Como já mencionado, o recorte temático procurou avaliar o significado da interferência dos sindicatos norte-americanos no movimento sindical brasileiro nos anos anteriores ao golpe de 1964. Momentaneamente guardei a questão agrária e elaborei a pesquisa de mestrado dando ênfase à história dessa intervenção.

A pesquisa resultou em minha dissertação e uma forte impressão básica de que, na luta pela conscientização dos sindicalistas durante a Guerra Fria, influências domésticas foram mais fortes que as estrangeiras[14]. Assim, para entender a realidade do Brasil, o estudo do Brasil por si mesmo seria essencial. Apesar da imagem de poder cultivada pelo governo dos EUA e pela esquerda da onipotência do país imperialista, a história do Brasil foi determinada mais por forças internas que externas.

Em 1995, consegui expandir o período do estudo e produzir um artigo dessa pesquisa, que foi publicado na principal revista dos estudiosos da América Latina, a Latin American Research Review. Como já foi citado, uma tradução dele foi publicada na revista Perseu: História, Memória e Política. Outra versão do artigo foi publicada em português, em inglês e alemão pela editora da Universidade Estadual de Maringá como capítulo do livro As relações entre o Brasil e os EUA no século XX, organizado pelos historiadores Sidnei Munhoz e Francisco Carlos Teixeira da Silva[15].

2.3 Doutorado

No final do segundo ano do mestrado, Dr. Berlin insistiu em almoçar comigo. Eu não levei sério o seu convite, mas um belo dia surgiu uma oportunidade. Assim que nos sentamos, ele me encorajou a concorrer a uma vaga de Doutorado, mas não na Universidade de Maryland. Incentivou-me a procurar entre os autores que estava lendo um possível orientador ou orientadora em história do Brasil. Dr. Berlin mesmo tinha convidado para o campus uma jovem professora da Universidade Estadual de Nova Iorque (SUNY), Barbara Weinstein. Ela proferiu uma linda fala sobre sua pesquisa do boom da borracha na Amazônia. Assim, concorri a uma vaga na SUNY e com o professor Charles Bergquist na Universidade de Duke no estado de Carolina do Norte. Bergquist não era um brasilianista, mas trabalhava sobre os cafeicultores da Colômbia, a História do trabalho na América Latina e a teoria da dependência. Eu não olhei além da região nordeste, já que minha esposa não quis abandonar seu emprego em Baltimore. No final, o pacote financeiro oferecido pela Duke foi muito melhor que o da SUNY e optei pela Duke, a “Harvard do Sul”.

No outono de 1985, comecei a estudar na Duke. Eu e Alois Mlambo de Zimbabwe entramos juntos, os primeiros orientandos de doutorado do professor, ambos interessados na história do Brasil. Bergquist, que era então o diretor do Centro de Estudos de América Latina da universidade, utilizou sua posição para trazer ao campus especialistas como o cientista político Amauri de Souza da IUPERJ, o historiador Robert Slenes da UNICAMP e, pela parceria com a Universidade da Carolina do Norte, John Monteiro e Maria Helena Machado. Outro convidado de Bergquist foi Bryan Palmer, especialista em História do trabalho e. P. Thompson. O escritor chileno Ariel Dorfman iniciou um período longo como professor visitante da Duke. Outro chileno já no Departamento de Ciências Políticas foi Arturo Valenzuela. Minha compreensão da região cresceu estudando com todos eles.

Na época, a Teoria de Dependência ainda estava em voga e, com a leitura de Raul Prebisch, Fernando Henrique Cardoso, Túlio Halpérin Donghi e outros cientistas latino-americanos, aprendi a valorizar não só a teoria, mas também a importância do local de origem de uma ideia[16]. Apesar dos problemas com a referida Teoria da Dependência, o conceito das raízes ideológicas ressaltou a necessidade de investigar diferentes sujeitos em seu próprio espaço. Essas reflexões, bem como minha experiência como jornalista, ajudaram-me a resolver trabalhar com a história do presente, incorporando em meus estudos estratégias e técnicas historiográficas para chegar mais próximo do objeto, como trabalhos de campo, observação, participação e História Oral, como ferramentas fundamentais na realização das pesquisas que continuo a desenvolver. Além disso, estou cada vez mais convencido da necessidade de fazer estudos de caso para localizar os acontecimentos em um espaço específico como umas das únicas metodologias que possibilitam a representação da complexidade da força humana – da agência – dos sujeitos.

Nas disciplinas de História Agrária que fiz dos EUA, em Cuba, no Haiti, no México, no Brasil e em outros países, principalmente os da chamada época de transição da escravidão para o trabalho livre, encontrei uma literatura rica em detalhes históricos, memórias, e análise teórica sofisticada. No trabalho final da disciplina que cursei com a africanista Professora Dr.ª Janet Ewald, experimentei as técnicas de História Comparada, escrevendo sobre a reorganização da produção agrícola, inclusive a mão de obra, em três colônias portuguesas: Brasil, Angola e Moçambique. Em um seminário temático com o professor visitante De Souza, aprendi muito sobre o papel dos partidos políticos e dos movimentos sociais nos setores agrário e industrial nos países do Cone Sul. Depois, no trabalho final da disciplina de Slenes, trabalhei a questão da transição agrária no contexto da relação entre o Brasil e os EUA, um projeto que inspirou indagações que logo depois orientaram minha pesquisa de doutorado. 

Retomei minha investigação da questão do “homem do campo” no discurso político de Getúlio Vargas[17]. Um levantamento da literatura na biblioteca da Duke reforçou minha suspeição de uma lacuna na literatura da história do Brasil republicano. Enquanto encontramos uma literatura vasta sobre o trabalhador rural como escravo negro e outra bastante ampla sobre o colono imigrante, a figura do camponês quase sumiu da história brasileira a partir dos anos 1920. Perguntava-me, então, qual teria sido o motivo da fala de Vargas nos anos 1930, 1940 e 1950?  A resposta da literatura especializada da época veio da experiência europeia: a burguesia e os latifundiários formaram um pacto para explorar os camponeses e excluí-los dos benefícios da nova Economia Política. Mas a fala de Vargas abriu precedentes para minhas indagações sobre o discurso da exclusão. Se é para excluir, por que os invocou tanto? Ainda na Duke, achei na biblioteca os anais do Congresso Brasileiro de Direito Social, chamado por Vargas em 1941 para uniformizar os direitos entre os trabalhadores rurais e urbanos. Os anais documentaram a tentativa da burguesia agrícola brasileira de integrar as economias agrária e industrial, da mesma forma que os EUA procuraram fazer ajustes na luta pela recuperação capitalista da Grande Depressão. Com base nessas informações e questões, solicitei e recebi uma Bolsa de pesquisa preliminar da Fundação Tinker para visitar o Brasil pela primeira vez em junho e julho de 1986.

A indicação de procurar pela orientação do Professor Dr. Michael Hall da UNICAMP veio do mexicanista John Womack, Jr. da Universidade de Harvard. Conheci Michael pessoalmente em Campinas e, a partir de nossa conversa, escolhi a microrregião da Alta Mogiana no estado de São Paulo para concentrar minhas pesquisas. O peso de Ribeirão Preto como base importante na produção do café e cana-de-açúcar fez da cidade a sede do poder dos fazendeiros paulistas e da sua influência sobre o estado e a nação, dado o papel estratégico das culturas de exportação lá produzidas.

No meu retorno ao Brasil para desenvolver a pesquisa em 1987, achei de fato em Ribeirão Preto acervos ricos em documentação, mas quase toda a massa documental desorganizada, jogados em closets ou outras formas de depósitos invés de arquivos. Os antigos jornais do Diário da Manhã foram organizados cronologicamente entre capas duras grandes, mas os cadernos foram largados em um quarto húmido da garagem do jornal. Descobri que uma Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça de Trabalho tinha sido estabelecida em Ribeirão Preto em 1957. Consegui do Juiz Valentin Carrion em São Paulo a autorização para pesquisar os processos, mas demorou para criar um arquivo, tirando a poeira das pilhas dos autos que encontrei no chão e os organizando cronologicamente nos estantes de aço providenciados pela junta. Só a arquidiocese da Igreja Católico, que se envolveu muito na mobilização dos trabalhadores rurais, tinha um arquivo histórico organizado. Para as atividades do Partido Comunista, procurei intermediários que me colocaram em contato antigos militantes. Todos eles ficaram muito animados para serem entrevistados[18].

Outro grande benefício da viagem preliminar foi a realização, por meio de notícias diárias, das lutas grevistas dos cortadores de cana e apanhadores de laranja da microrregião da Alta Mogiana. Se a questão inicial era entender a integração do “homem do campo” na economia política do Estado Novo, o círculo histórico fechou-se em torno da questão das raízes da força de mobilização dos “boias-frias” que tomaram conta do interior no contexto da transição democrática, que testemunhei em 1986. Depois de seis semanas, voltei do Brasil bem mais preparado para escrever e defender meu projeto de pesquisa de tese de doutorado.

É valido anotar que na pós-graduação nos EUA os Projetos de pesquisa ou da dissertação ou da tese são produzidos durante o Programa, não como parte do processo seletivo. Quando comecei o doutorado na Duke, eu ainda não tinha concluído a dissertação de mestrado. Foi no quarto semestre do doutorado que defendi o mestrado. A experiência produziu um dos conselhos mais importantes que utilizo regularmente agora que sou orientador. Um dia, Bergquist assim expressou sua frustração para comigo: “A ideia da dissertação não é responder a todas as dúvidas do assunto, a ideia é concluir e defender o que deu para fazer”. Iluminado, concluí a dissertação em mais um final de semana.

Emancipado da dissertação, eu podia dar mais atenção à questão do lugar do campo como espaço privilegiado de meus estudos e pesquisas. Retornei ao Brasil em junho de 1987 com uma Bolsa Shell, estabelecendo-me em Pinheiros com a orientação de John Monteiro e Maria Machado. Viajei frequentemente para Ribeirão Preto, onde encontrei outro estudante de pós-graduação, Sebastião Geraldo, que estava fazendo jornalismo na ECA da USP. Construímos uma amizade duradoura. Ele estudava o jornalismo popular que apoiava os trabalhadores rurais da região que estavam se organizando coletivamente para melhorar suas vidas, às vezes vinculados ao Partido Comunista do Brasil (PCB) e às vezes ligados à Igreja Católica.

Para aprofundar a pesquisa no espaço físico da Alta Mogiana, meu estudo revelou mais uma faceta do conflito que ocupa o imaginário da “revolução brasileira” com o conteúdo de uma reforma agrária radical, incluindo a formação de sindicatos de trabalhadores rurais autônomos e influentes. A tese necessitava de instrumentalizar toda a minha trajetória pessoal e profissional como caubói, jornalista, ativista e pesquisador – trabalhos no campo, história oral, relações internacionais, estudos políticos e participação em movimentos sociais e sindicais. Em 1988, consegui uma nova bolsa da Organização dos Estados Americanos e voltei para Duke em 1989. Defendida em 1990, o título final da tese foi “Rural Labor and the Brazilian Revolution in São Paulo, 1930-1964”, que está disponível on-line pela ProQuest[19].

Durante a pesquisa da tese no Brasil, conheci vários militantes do PCB, entre os quais Irineu Luís de Moraes e Jôfre Corrêa Netto. Os dois, agora falecidos, moraram próximos em bairros da classe trabalhadora rural de Ribeirão Preto. As memórias de Moraes formaram o coração de meu primeiro livro, Lutas camponesas no interior paulista, produzido em parceria com Geraldo. Foi publicado pela Editora Paz e Terra em 1992. Foi muito gratificante quando Irineu foi chamado pela Globo para ser entrevistado pelo Jô Soares[20].

Figura 4 Irineu Luiz de Moraes entrevistado pelo Jô Soares com o lançamento da biografia Lutas camponesas no interior paulista pela Editora Paz e Terra em 1992.

Inicialmente, eu estava mais interessado em conhecer Jôfre, pois foi destacado nas fontes primárias da época como o “Fidel Castro do Sertão”, mostrando o poder duplo da ideia da Revolução cubana nas relações interamericanas. Minhas relações com os dois militantes foram examinadas no artigo “Giving Voice to Brazil’s Rural Labor Movement” (2000). Contempla como meus valores me fizeram ter uma leitura parcial do Jôfre. Viu nele características de um malandro e desconfiei dele; acabei prestando mais atenção em Moraes, que apresentava características de militância mais convencionais.

Contudo, em 1999, depois de expandir a tese com mais cinco anos de pesquisa e revisões profundas que tinham sido sugeridas pelo professor John D. French, eu publiquei um livro baseado na tese[21]. Seed alterou para sempre a narrativa da exclusão dos trabalhadores rurais dos debates do desenvolvimento do Brasil. Os protagonistas são os camponeses, mas eles fazem parte de uma rede complexa de relações sociais em transformação. O livro dá destaque para o movimento sindical e seus militantes no PCB e na Igreja Católica, bem como para a atuação de fazendeiros e outros representantes do capitalismo agrário no contexto da Guerra Fria[22]. A tradução e publicação do livro no Brasil, em forma revisada e atualizada, foi financiada pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural – NEAD, do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA e publicado em 2010[23].

Como fruto desta pesquisa, foram produzidas numerosas outras publicações. O primeiro foi “Rivalry and Unification”. Publicado em inglês e em português, argumenta que foi a unificação dos movimentos sociais no campo, orientada pelo governo, que ajudou a instigar a participação dos fazendeiros no golpe militar e não a alegada anarquia no campo.[24] Em 2004, o artigo foi traduzido e publicado como “Rivalidade e unificação: mobilizando os trabalhadores rurais na véspera do Golpe de 1964”.[25] O segundo, “Os camponeses entram em cena: A iniciação da participação política do campesinato paulista”, mostra que Vargas persistiu em promover pesquisas e projetos de lei que mexeram com as relações de trabalho no campo e argumenta que sua administração nunca aceitou a ideia de um pacto de paz com os fazendeiros. O artigo foi publicado na Coleção História Social do Campesinato no Brasil em 2009.[26] Um terceiro argumento inspirado pela tese foi preparado como o artigo, “O ‘reajustamento’ da vida rural na Era Vargas” e apresentado em 2004 no Simpósio sobre Vargas no antigo Palácio do Catete no Rio de Janeiro. Ele foi publicado simultaneamente em português e em inglês, na Revista Brasileira da História em 2016[27].

2.4 Pós-Doutorado

O Pós-Doutorado não é um estágio comum na tradição dos profissionais das Ciências Humanas nos EUA. Já empregado como professor assistente até antes de defender minha tese em 1990, nunca contemplei um pós-doutorado. Quando comecei trabalhar no Brasil, já era portador de Ph.D. por mais de dez anos, fechando para mim a possibilidade de realizar um pós-doutorado no Brasil.

2.5 Estágio Sênior

Em 2014, consegui uma bolsa CAPES de Estágio Sênior (BEX No. 3964-13/2). O estágio foi realizado no Departamento de História da Universidade de Califórnia – Campus de Santa Cruz. Como mencionei na discussão da minha graduação, fiz poucas aulas de História durante o curso. Mas, durante o estágio, procurei participar na vida do Departamento. Minha supervisora, Dr.ª Dana Frank, que trabalha com a História do Trabalho e da América Central, apresentou-me a colegas engajados em História Transnacional e chamou minha atenção por o acervo da organização Terra Nacional para o Povo (NLP, na sigla inglesa). Ofereceram-me um escritório, o título de Pesquisador Associado, uso livre das bibliotecas e reprodução fotocopiada de textos, e dei dois trimestres de aula de História do Brasil para alunos da graduação.

Meu projeto de pesquisa foi “A resistência do pequeno produtor e suas contradições no estado da Califórnia/EUA.” Por pesquisas anteriores, sabia que a preservação de pequenos agricultores tem sido uma preocupação das políticas públicas na Califórnia. Procurei entender por que e como funcionavam tais políticas. Estava embarcando em uma nova linha de pesquisa transnacional, porque, também no Brasil, em minha pesquisa em relação à reforma agrária e à organização dos sem-terra estava preocupado com a escala dos estabelecimentos agrícolas e, assim, a democratização da distribuição da terra.

O Estágio foi rico em resultados. Além das experiências com o Departamento, os estudantes e intercâmbios com colegas como Dana Frank, Gail Herstatter, Julie Gutman, aprendi muito sobre agroecologia, levantei uma bibliografia extensa sobre as políticas de agricultura de pequena escala, levantei documentação da NLP e entrevistei seus organizadores, fiz uma palestra para a comunidade universitária sobre a NLP e, mais tarde para um projeto patrocinado pela FAPESP e pelo British Council, com o titulo: “Agrarian reform in California: Water and National Land for People (1971-1984)”.   Divulgei parte da pesquisa em forma de uma apresentação – “Agroecologia: histórias de resistência, apropriação e acomodação” – ao Congresso Internacional da Associação de Estudos de América Latina (LASA) em 2015. Nos anos seguintes, escrevi e publiquei dois capítulos de livros como produtos do estágio. Eles são:

  1. WELCH, Clifford Andrew. National Land for People and the Struggle for Agrarian Reform in California. In: WILLIAMS, Justine M.; HOLT-GIMÉNEZ, Eric. (orgs). Land Justice: Re-imagining Land, Food and the Commons in the United States. Oakland: Food First Books/Institute for Food and Development Policy, 2017, p. 228-242.
  2. WELCH, Clifford Andrew. Direitos: a luta pela lei trabalhista no campo nos estados de São Paulo e Califórnia. In: SILVA, Fernando Teixeira da; FORTES, Alexandre (orgs). Trabalho & Labor: histórias compartilhadas (Brasil e Estados Unidos). Salvador, BA: Sagga Editora e Comunicação, 2020, p. 241-287.

Para finalizar, procurei conhecer o brasilianista do Departamento, David G. Sweet. Conheci o trabalho dele sobre a História do Amazonas; optei por incluir na bibliografia básica da minha disciplina, “História do Brasil” o seu ensaio “Francisca: Escrava da Terra” (1981)[28]. Logo fiquei sabendo que ele se aposentara em 2000, mas estava morando ainda em Santa Cruz. Depois de algumas tentativas, conseguimos encontrar-nos. Descobri nele um grande amigo. Nos anos seguintes, negociei com a UNIFESP a doação de mais que cinco mil livros e 60 gavetas de arquivo de aço de suas anotações e coleções. No final, ele pagou por tudo e a van de carga chegou em Santos em fevereiro de 2020, duas semanas antes da declaração da pandemia de Covid-19. Os livros ainda estão sendo processados na biblioteca do Campus de Guarulhos e o acervo está sendo organizado pelo Centro de Memória e Pesquisa Histórico do campus.

III. HISTÓRICO DAS LINHAS DE PESQUISA

O conceito de linhas de pesquisa é uma novidade para mim. Durante minha formação, ninguém falou de linhas de pesquisa. Departamentos procuraram contratar professores para dar conta das disciplinas de graduação e pós-graduação. No caso, quando respondei à chamada da Grand Valley State University (GVSU), o Departamento de História estava buscando uma pessoa para oferecer novas matérias sobre a “História do Terceiro Mundo”. GVSU é uma universidade estadual, estabelecida em 1960, com quase 20 mil estudantes de graduação e pós-graduação, num campus rural de mais que 500 hectares. O edital da vaga foi uma oportunidade para mim, porque minha formação tinha sido muito ampla, com ênfase na América e na África. Desenvolvi uma disciplina introdutória chamada “O Terceiro Mundo e o Oeste”. Procurei apresentar para as alunas e alunos as resistências e resiliências dos povos da América e da África que foram enfrentados pelo colonialismo e o sistema de escravidão desde 1492.

Como desdobramentos da disciplina, organizei colegas interessados em temas similares a participar na construção de programas de estudos de área. O primeiro que organizamos foi o Programa de Estudos de América Latina. Logo depois, organizamos o Programa de Estudos do Meio-Oriente e o terceiro foi o Programa de Estudos da África e dos Afro-Americanos. O movimento, bem como um debate nacional sobre “Globalização” e a necessidade de formar “cidadãos globais”, influenciou o Departamento de História a abandonar suas disciplinas de História Ocidental, substituindo-as por novos livros didáticos da História Mundial.

A linha principal de pesquisa que segui no início da minha carreira foi determinada pelas pesquisas realizadas na escrita da dissertação e da tese. No seu íntimo, tratou da História do Trabalho da América Latina. A partir de 1990, eu me envolvi com outros especialistas do tema quando Dr. John D. French me convidou a participar na serie anual de simpósios na História do trabalho da América Latina. Além de French, entrei em diálogo com Alexandre Fortes, Avi Chomsky, Barbara Weinstein, Emilia Viotti da Costa, Fernando Teixeira da Silva, Daniel James, Helen Tinsman, Jeffrey Gould, Joel Wolfe, Margaret Keck, Mary Roldan, Michael Jimenez, Paulo Fontes, Peter Winn, Susan Besse, e outros.

Todavia, sempre percebi certa distância entre a história dos trabalhadores rurais e o foco nos trabalhadores urbanos da maioria dos participantes nesses simpósios. Na área de conhecimento, como na vida, os camponeses estavam geralmente subestimados pelos historiadores. A partir dessa marginalização, gradualmente eu migrei para ter maiores associações com outras áreas de conhecimento, especialmente entre especialistas em estudos agrários nas Ciências Sociais e Ciências Humanas. Isso já ficou evidente durante minha primeira visita no Brasil em 1986, quando conheci o Projeto de Intercâmbio de Pesquisa Social em Agricultura (Pipsa), financiado pela Fundação Ford e coordenado então pela socióloga Leonilde Servolo de Medeiros do Centro de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Agricultura (CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Uma significativa maioria deles era de antropólogos, sociólogos e geógrafos. Não me lembro de uma única historiadora. Até hoje, Leonilde e outros cientistas sociais da antiga Pipsa são colaboradores.

Ainda assim, como historiador, vejo a importância da abordagem histórica, com sua disciplina documental. Então, em 2007, eu abracei com gosto o convite para fazer parte do Conselho Nacional Editorial da Coleção História Social do Campesinato no Brasil. Coordenado inicialmente pelo sociólogo Horacio Martins de Carvalho, o Conselho contou com um rol internacional de especialistas, mas só mais dois eram historiadores: Márcia Motta e Paulo Zarth. Eu tomei a liderança do primeiro volume de uma coleção final de nove livros, financiada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, por meio do NEAD/MDA. O projeto também contou com a orientação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Publicado pela Editora da UNESP, o primeiro volume apresentou “leituras e interpretação clássicos” sobre os camponeses brasileiros[29]. Depois, agitava entre os historiadores para encorajar contribuições para uma “História Social do Campo”.

Essa linha tem raízes no conceito de História Social de Thompson, uma conexão que Márcia Motta enfatizou no trabalho do Conselho Nacional Editorial; algo encontrado, mesmo assim, no capítulo 2, “Os trabalhadores rurais”, do volume II de A formação da classe operária inglesa. Mas, o conceito do “campo” veio para mim a partir de meu contato com a Geografia Crítica Brasileira e, especialmente, do geógrafo Bernardo Mançano Fernandes, que se tornou meu principal colaborador desde 2003. Bernardo foi muito ativo na promoção de uma pedagogia que ganhou o nome “Educação do campo” nos anos 1990. Em 2007, ele me convidou para servir como professor colaborador da UNESP – Campus de Presidente Prudente, na elaboração de uma proposta para estabelecer uma Cátedra da UNESCO em Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial. Discutimos bastante o nome. Especificamente a palavra “campo” foi concebida no sentido de Raymond Williams, Teodor Shanin e Fei Hsiao-Tung, como um modo-de-vida[30]. Assim, “a educação do campo” é uma educação que ensina como valorizar a vida no campo a partir de múltiplas dimensões e a “História social do campo” é uma História que analisa transformações e continuidades nas relações sociais como forças fundamentais no construir/destruir do modo de vida rural. Não é uma História da agricultura[31], nem de abastecimento[32], mas, sim, do campo, como lugar de disputa entre diversos modos de vida. Na UNIFESP, formei um grupo de estudos da História Social do Campo, como parte do nosso laboratório CNPq, o Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Memória e Patrimônio do Trabalho[33]. Em 2010, como conferencista da primeira mesa redonda do encontro estadual paulista da Associação Nacional de História apresentei “A História Social do Campo e os Mundos do Trabalho”[34]. Em 2016, o Departamento de História da Universidade Federal do Ceará me convidou a abrir seu seminário de pesquisa com o trabalho, “A História Social do Campo no Tempo Presente”.

Às vezes as linhas de pesquisa são produtos dos tempos. Em Brasília, em 2012, o Encontro Nacional Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas declarou a necessidade da Comissão Nacional da Verdade a ser formada pelo governo Dilma Rousseff para contemplar também as violações de direitos humanos do povo do campo. O encontro de militantes conclamou pela criação de uma Comissão Camponesa da Verdade (CCV) para auxiliar a comissão nacional a produzir um capítulo sobre o sofrimento dos camponeses com a instalação do capitalismo agrário desde a Segunda Guerra Mundial até a Constituição Federal de 1988, com ênfase especial na ditadura militar-empresarial de 1964 a 1985. No ano seguinte, fui chamado para participar como pesquisador do estado de São Paulo. Logo organizei uma equipe de pesquisadores e estudantes para levantar os casos de violações. Também articulei nosso trabalho com a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva da Assembleia Legislativa. Pelo menos três audiências enfatizaram a violação dos direitos de camponeses e seus representantes. Até hoje, participo da CCV e desenvolvo pesquisas sobre as violações dos direitos humanos dos camponeses[35] e a justiça da transição[36].

Finalmente, o projeto que estou privilegiando atualmente é “Alimentos e poder: geo-histórias da luta contra a fome na América”. O tema funciona bem como guarda-chuva para a maioria dos subprojetos de pesquisa dos alunos de pós-graduação que oriento no programa de pós em História da UNIFESP (PPGH), no programa de pós em Desenvolvimento Territorial na América Latina e o Caribe da UNESP (TerritoriAL); e no Doutorado em Estudios Sociales Agrarios do Centro de Estudios Avanzados da Universidad Nacional de Córdoba, Argentina (ESA/CEA). No PPGH, faço parte da Linha 3, Deslocamentos, Trabalho e Experiências. No territorial da UNESP, sou associado à linha Soberania Alimentar, Meio Ambiente e Saúde.

No contexto do Projeto “Alimentos e Poder,” completei um projeto FAPESP em julho de 2023 (Processo 2021/11294-1), com o título “O sonho californiano de George Ballis: a luta pela terra, água, alimentos e poder no estado dourado (1960-1995).” No terceiro trimestre de 2024, vou aproveitar de uma bolsa da revista Latin American Perspectives para realizar pesquisas em relação do Projeto “Reforma agrária...in California?” no arquivo histórico da Universidade da California – Campus de Riverside.

Por meio do Grupo de Trabalho de Desenvolvimento Rural: Estudos Críticos da CLASCO, participei em um projeto de pesquisa bi-nacional, “Movimentos camponeses e agronegócio na América Latina e Caribe”, no qual realizei outra pesquisa sobre a História do agronegócio nos EUA e a influência da ideologia no Brasil[37]. Realizei várias obras vinculadas com o tema do agronegócio, inclusive uma disciplina de Pós-Graduação na UNESP/PP e quatro publicações na América Latina e ganhei uma bolsa para pesquise no Arquivo Rockefeller no estado de Nova Iorque.[38] O primeiro estudo comparativo foi um estudo de caso da História da formação da indústria de suco de laranja nos EUA e Brasil (no caso, nos estados de Flórida e São Paulo) para examinar, entre outros temas, o desenvolvimento do conceito de agribusiness e sua transformação em arma ideológica a partir do século XXI. É um exemplo do tipo de pesquisa na História dos EUA que vejo como uma contribuição importante para entender a História do Brasil Contemporâneo.


[1] A ironia da cena não foi perdida para mim. Minha dissertação tratou da colaboração do movimento sindical estadunidense com as maquinações dos EUA para derrubar o presidente João Goulart em 1964. Mas, nas décadas seguintes, a postura da AFL-CIO mudou significativamente, uma história que conheci pela minha proximidade com os participantes. A dissertação foi publicada no Brasil como: WELCH, Clifford Andrew. Internacionalismo trabalhista: o envolvimento dos Estados Unidos nos sindicatos brasileiros, 1945-1964. Perseu: História, Memória e Política v.2, n.3, p185-219, 2009.

[2] ALMEIDA, Bianca Leticia de. O ressoar da primavera: a trajetória da escritora e cientista natural Rachel Carson (1907-1964). Em: Kmitta, Ilsyane do Rocio; Zimmerman, Tania Regina (orgs). Mulheres, meio ambiente, e o sagrado (Espiritualidades humanas). Santa Maria (RS): Arco Editores, 2024, p. 61-78.

[3] CARSON, Rachel. Silent Spring. Boston: Houghton Mifflin, 1962. Foi publicado no Brasil originalmente como Primavera silenciosa pelas Edições Melhoramentos em 1964.

[4] BROWN, Dee. Bury my heart at Wounded Knee, an Indian history of the American West. New York: Holt, Reinhart & Winston, 1970. Publicado em tradução no Brasil, pela primeira vez, em 1973 como, Enterrem meu coração na curva do rio: a dramática história dos índios norte-americanos. Tradutor Ferraz, Geraldo Galvão. São Paulo: Editora Círculo do Livro, 1973.

[5] MENCHÚ, Rigoberta. I, Rigoberta Menchú: An indian woman in Guatemala. Burgos-Debray, Elisabeth (org). Londres: Editora Verso, 1985.

[6] Aspectos da história do CPS que não conhecia a época podem ser encontrados em https://en.wikipedia.org/wiki/Collegiate_Press_Service Acesso em 24/02/2024.

[7] WELCH, Clifford Andrew. Beefing Harvesters: Cowboys and Coalminers in Contemporary Wyoming. 1979. 78 f. Monografia (Bacharelado em American Studies), University of Califórnia – Santa Cruz.

[8] Além de cultivar reporters, publiquei uma coluna semanal sobre a política municipal e artigos investigativos sobre corrupção, especialmente de empresas de confiança publica. Para mais sobre o jornal, consultar: https://en.wikipedia.org/wiki/Baltimore_City_Paper. Acesso em 24/02/2024.

[9] Para conhecer mais sobre a National Writers Union, que existe até hoje, visite o site https://nwu.org/home-page/ . Acesso em 27/02/2024.

[10] GENZLINGER, Neil. Ira Berlin is Dead at 77; Groundbreaking Historian of Slavery. The New York Times. 8 de junho, 2018.. Disponivel em https://www.nytimes.com/2018/06/08/obituaries/ira-berlin-groundbreaking-historian-of-slavery-dies-at-77.html. Acesso 25/02/2024.

[11] SHANIN, Teodor. Lições camponesas. WELCH, Clifford Andrew; MARQUES, Marta Inez Medeiros (tradutores). In: PAULINO, Eliane Tomiasi; FABRINI, João Edmilson (orgs). Campesinato e territórios em disputa. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2008, p.23-47.

[12] BORGES, Gerson; FERNANDES, Bernardo Mançano; SILVA, Marcelo Leal Teles da. Teodor Shanin: MPA perde um amigo e apoiador da luta camponesa. Sul21. Disponível em https://sul21.com.br/opiniao/2020/02/teodor-shanin-mpa-perde-um-amigo-e-apoiador-da-luta-camponesa/. Acesso em 25/02/2024.

[13] PAGE, Joseph A. A revolução que nunca houve. O Nordeste do Brasil 1955-1964. Rio de Janeiro: Editora Record, 1972.

[14] WELCH, Cliff. United States Labor Policy and the Politics of ‘Ordem e Progresso’ in Brazil, 1945-1950. 1995. 95 f. Dissertação (Mestrado em História). Graduate School, University of Maryland – College Park, MD.

[15] WELCH, Cliff. Internacionalismo trabalhista: o envolvimento dos Estados Unidos nos sindicatos brasileiros, 1945-1964. In: MUNHOZ, Sidnei; SILVA, Francisco Carlos Teixeira da (orgs). Relações Brasil-Estados Unidos: séculos XX e XXI. Maringá/PR: Editora da Universidade Estadual de Maringá, 2011, p. 453-494.

[16] O brasileiro Ruy Mauro Marini não fez parte do debate como foi apresentado. Aprendi sobre suas contribuições por meio do diálogo com intelectuais orgânicos do MST.

[17] Ver, por exemplo, VARGAS, Getúlio. A Plataforma da Aliança Liberal. A Nova Política do Brasil Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1938, v. 1, p. 26-28, e seu Discurso de Primeiro de Maio. A Nova Política do Brasil. Rio de Janeiro: EditoraJosé Olympio, 1940, v.3, p. 255-263.

[18] Com a conclusão da tese, doei as gravações das entrevistas realizadas, mais as transcrições, para o Arquivo Edgard Leuenroth da UNICAMP. WELCH, Cliff (entrevistador). Entrevistas com militantes do movimento sindical dos trabalhadores rurais. Ribeirão Preto e São Paulo, SP, 1988-1989. 15 fita cassetes, FC/00143-FC/00157, Pastas 13 e 14. Arquivo Edgard Leunroth, UNICAMP. Também, em 1994, Sebastião Geraldo e eu conversamos com o prefeito Wilson Gasparini de Ribeirão Preto sobre a importância de criar um arquivo para guardar os antigos jornais, processo e outros documentos históricos da cidade. Em 1995, o custodia de 40,000 processos trabalhistas foi assumido pelo Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Veja O Guia do Arquivo (1996), p. 11, disponível em https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/adm01202109.pdf > acesso em 08/03/2024.

[19] WELCH, Clifford Andrew. Rural Labor and the Brazilian Revolution in São Paulo, 1930-1964. 1990. 333 f. Tese (Doutorado em História) – Graduate School, Duke University, Durham, North Carolina, ProQuest No. AAT 9122432.

[20] MORAES, Irineu Luiz de. Entrevista concedida ao Jô Soares. s/d. Festival Jô Soares Onze e Meia: Direto da VHS – Fita 06 (1992/93). Posição: 4:26:00 a 4:40:00. Videoteca do Jota. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=eYWrA1LsKgo. Acesso 27/02/2024.

[21] WELCH, Cliff. The Seed Was Planted: The São Paulo Roots of Brazil’s Rural Labor Movement, 1924-1964. State College: Penn State Press, 1999. Também foi publicado simultaneamente no Reino Unido pela Macmillan.

[22] Neste sentido constitui uma contribuição para as teorias pós-colonial e pós-moderna de relações internacionais como foram desenvolvidas no livro Close Encounters of Empire: Writing the Cultural History of U.S.-Latin American Relations. Organizado por Gilbert M. Joseph, Catherine C. LeGrand, e Ricardo D. Salvatore. Prefácio por Fernando Coronil. Durham: Duke University Press, 1998.

[23]  A tradução portuguesa de The Seed Was Planted, foi realizada depois da atualização e revisão do texto e publicado como WELCH, Clifford Andrew. A semente foi plantada: as raizes paulistas do movimento camponês, 1924-1964. Ed. revisada e ampliada, Fortes, Melissa; Cunha, Andrei, tradutores. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2010.

[24] WELCH, Cliff. Rivalry and Unification. Mobilising Rural Workers in São Paulo on the Eve of the Brazilian Golpe of 1964. Journal of Latin American Studies. Londres, v. 27, p. 161-187, 1995.

[25] WELCH, Cliff. Rivalidade e Unificação: Mobilizando os Trabalhadores Rurais em São Paulo na Véspera do Golpe de 1964. Projeto História. São Paulo, n. 29, Tomo 2, p. 363-390, 2004.

[26] WELCH, Clifford Andrew. Os camponeses entram em cena: a iniciação da participação política do campesinato paulista. In: MOTTA, Márcia; ZARTH, Paulo, organizadores. Formas de Resistência Camponesa: visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história. v. 2: República. Coleção História Social do Campesinato do Brasil. São Paulo: Edunesp, 2009, p. 29-51.

[27] WELCH, Clifford Andrew. Vargas e a reorganização da vida rural no Brasil (1930-1945). Revista Brasileira de História. v.36, n.71, p.81-195, 2016 e WELCH, Clifford Andrew. Vargas and the reorganization of rural life in Brazil (1930-1945). Revista Brasileira de História. v. 36, n. 71, p. 1-25. jan-abr, 2016.

[28] SWEET, David G. Francisca: Indian slave. In: SWEET, David G.; NASH, Gary B. (orgs). Struggle and survival in colonial America. Los Angeles: University of California Press, 1981, p. 274-291.

[29] WELCH, Clifford A.; MALAGODI, Edgard; CAVALCANTI, Josefa S. B.; WANDERLEY, Maria de Nazareth B. (orgs.) Camponeses brasileiros: leituras e interpretações clássicas. São Paulo: Editora da Unesp, 2009.

[30] WILLIAMS, Raymond. The Country and the City. Londres: Oxford University Press, 1973 and SHANIN, Lições camponeses, p. 36.

[31] KLEIN, Herbert S.; LUNA, Franciso Vidal. Alimentando o mundo: o surgimento da moderna economia agrícola no Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2020.

[32] LINHARES, Maria Yedda Leite. História do abastecimento: uma problemática em questão, 1530-1918. Brasilia: BINAGRI Edições, 1979.

[33] Os responsaveis são Luigi Biondi, Edilene Toledo e eu.

[34] WELCH, Clifford Andrew. A História Social do Campo e os Mundos do Trabalho. Mesa-Redonda, XX Encontro Regional de História. ANPUH – São Paulo, 8 de setembro de 2010. Apresentei versões desta conferência na Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Universidade Federal Fluminense e a Universidade Federal de Ceará.

[35] WELCH, Clifford Andrew. 2014. Camponeses, a verdade e a história da ditadura em São Paulo. Revista Mundos do Trabalho. v.6, n.11, p.5 7-78. Disponivel em https:// periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/1984-9222.2014v6n11p57 Acesso em 28/02/2024 e “São Paulo” In: SAUER, Sérigo et al. (orgs). Comissão Camponesa da Verdade. Relatório final: violações de direitos no campo, 1946 a 1988. Brasilia: Universidade de Brasília – Decanto de Extensão, 2016, p. 460-530.

[36] GASPAROTTO, Alessandra, COMISSÃO CAMPONESA DA VERDADE, WELCH, Clifford Andrew. “O caso da JOSAPAR e a reparação das violações dos direitos humanos de camponesas e caponeses na região do Guamá, Pará (1981-1985)”. A Justiça de Transição no Brasil e a Luta por Reparação, Intercâmbio Informações Estudos Pesquisas (IIEP) – Projeto Memória OSM-SP. Escola de Direito, Universidade de São Paulo, Largo de São Francisco. 27 nov., 2023. Disponível em https://www.youtube.com/ watch?v=A9geX_FMUDU&pp=ygURY2xpZmZvcmQgYS4gd2VsY2g%3D Acesso em 28/02/2024.

[37] FERNANDES, Bernardo Mançano; WELCH, Clifford Andrew. Campesinato e agronegócio da laranja nos EUA e Brasil. In: FERNANDES, Bernardo Mançano (org.). Campesinato y agronegócio na América Latina a questão agrária atual. Buenos Aires: CLACSO/São Paulo: Expressão Popular, 2008, p.45-69.

[38] As publicações são, WELCH, Clifford Andrew. Agronegócio e a agricultura familiar nos EUA. In: Anais do XVII Encontro Nacional de Geografia Agrária – Tradição e Tecnologia: As novas territorialidades do Espaço Agrário Brasileiro. Gramado, 11 a 15 novembro, 2004; WELCH, Clifford Andrew. Agribusiness: uma breve história do modelo norteamericano. In: Anais do X Encontro de Geógrafos de América Latina. São Paulo, 20 a 26 de março de 2005. p 16497-16505; e WELCH, Clifford Andrew. Resistindo ao agronegócio. Jornal da Unesp. São Paulo, v. XIX, p S2-S3, 01 novembro, 2005. A Family Rockefeller foi chave no desenvolvimento do agronegócio no Brasil. Realizei a pesquisa no Rockefeller Archive Center com uma bolsa em 2013. Veja WELCH, Clifford A. “Rockefeller and the Origins fo Agribusiness in Brazil: A Research Report”. Disponivel em https://www.issuelab.org/resources/27973/27973.pdf Acesso 14/03/2024.

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